IPETÉ: A FESTA QUE ACALMA - TVR USM

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IPETÉ: A FESTA QUE ACALMA



Oxum encontrava-se com problemas no ventre e isso impedia a realização de seu grande desejo, que era engravidar. Diante dessa dificuldade ela decide consultar Orunmilá, o qual lhe ofereceu ajuda e indicou um preceito a ser seguido. Ele recomendou que todas as Oxum recebessem comida como oferenda (Oxum fazer oferenda às Oxum? Vide explicação ao final). Oxum retrucou dizendo que cada uma tinha predileção por uma comida específica e que seria difícil agradar a todas. Contudo, Orunmilá com toda sua sabedoria incentiva Oxum, pedindo-lhe que criasse uma comida que agradasse a todas. Oxum ainda com dúvidas, questiona o que deveria fazer. Então Orunmilá lhe respondeu:

– Busque uma estrada que pareça não ter fim, caminhe confiante e algum tempo depois você encontrará um homem que te presenteará com um fruto. 

Mesmo desconfiada, Oxum concluiu que essa seria a única forma de resolver seu problema. No raiar do dia Oxum saiu rumo ao encontro da estrada e depois de muito tempo caminhando sobre ela, avista um homem parado no caminho, esse homem era Ogum.

Ogum por sua vez se espanta em ver Oxum em sua estrada, pois a senhora das águas doces quase nunca saía do seu palácio de águas, gostava de ficar se banhando e esperando reverências e presentes de seus discípulos. Por isso, Ogum prontamente lhe pergunta o que a fez chegar ali.

Após Oxum explicar seus objetivos, Ogum colhe na beira da estrada uma “raiz” chamada isú (inhame cará), entrega nas mãos de Oxum e diz que a tal comida deveria ser feita com o inhame cará.

Oxum então questiona:
– O que deseja em troca, Ogum!

Ogum encantado com tamanha beleza responde:
– Além de ser o primeiro a experimental sua iguaria, desejo que sob a panela de tal oferenda tenha uma rodilha de abre-caminho (círculo feito com o ramo da erva de abre-caminho - erva específica de ogum, mas que também contempla Oxóssi e Logunedé).

Oxum acatou todas as recomendações de Ogum e deu o nome de tal iguaria de ipeté. Assim nasceu a festa do ipeté. Todas as Oxum são reverenciadas e fazem uma procissão com uma panela, onde dentro dela contém o ipeté e abaixo as folhas de abre-caminho (atendendo ao pedido de Ogum).

Em nossa casa essa cerimônia acontece sempre após a festa das ayba. Iyemonjá participa dando água de sua talha aos fiéis, enquanto que Oya dá seus acarajés. Nessa festa não há sacrifícios, é o encerramento da festa das rainhas, finalizando o ciclo anual das festas na casa de santo. Essa festa tem a função de abrandar a casa e os filhos, trazendo a paz espiritual. Segundo os antigos, se o ipeté foi capaz de acalmar Ogum em total cólera, ele pode acalmar as energias de uma casa. Por isso, durante a procissão das Oxum entoamos o seguinte cântigo:

“Ipeté Ògún Já. Ògún já dèró”
(Ogum comeu do ipeté e se acalmou)

Explicação: É comum em algumas lendas o oráculo recomendar que algum determinado orixá fizesse oferendas a ele mesmo. Um bom exemplo disso ocorreu com Ogum, pois ele questionou as recomendações “espirituais” dizendo que ele não precisava fazer oferendas a Ogum, porque ele era o próprio. Surpreso, Ogum recebe a seguinte resposta:
– Você é Ogum quanto estiver no céu, enquanto estiver de passagem pela terra você deverá prestar oferendas ao senhor dos ferros que habita o céu.
Nesse mesmo sentido, apesar de Oxum ser um único orixá (dentro da nossa visão), ela teve várias etapas de sua vida no céu e na terra, em cada uma dessas etapas Oxum teve um estilo de vida. Quando dizemos “as Oxum”, isso faz menção a cada uma dessas fases vividas por Oxum, o que no Brasil chamamos de “qualidades de Oxum”.

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