ITAN ÒDÉ - OLOGUN E APASHA - TVR USM

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ITAN ÒDÉ - OLOGUN E APASHA

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Vivendo em Iyagba, que fica ao Norte, havia um caçador chamado Ologun cuja fama se espalhava por muito longe até mesmo na terra dos Nupe. É dito que quando Ologun ia caçar ele era tão rápido quanto o antílope que ele perseguia, e nenhuma caça no ermo podia escapar-lhe. Ologun tinha um irmão caçula chamado Apasha. Apasha ouvia os homens elogiarem Ologun, e ele mesmo ansiava ser um caçador. Muitas vezes ele disse a Ologun, “Eu irei contigo à caça”, mas Ologun sempre respondia, “Não, eu sou um caçador que caça sozinho. Que assim seja.” Assim mesmo Apasha persistia. Ouvindo os homens elogiarem Ologun ele foi afligido pela inveja.

Ologun não se enraivecia com Apasha. Ele dizia, “Irmão caçula, seu tempo há de chegar. Você também será um grande caçador. Então você entenderá porque eu caço sozinho. Eu mato um veado, eu corro. Eu mato um antílope, eu não paro. Eu persigo um leopardo, faço a matança, e prossigo a perseguição, uma criatura do mato após a outra. A corrida é grande, e não termina até que o sol comece a se pôr no céu. Então eu volto, tiro a pele do leopardo, volto e corto meu antílope, volto e pego meu veado. Um homem caçando sozinho sabe o caminho, dois homens caçando juntos discutem sobre qual caminho seguir, ou sobre perseguir o macaco ou o rato-do-mato.”

Havia um ressentimento no coração de Apasha causado pelas grandes habilidades de caça de Ologun. Ele de tempos em tempos sempre importunava Ologun, algumas vezes chegando a dizer, “Eu sou seu irmão caçula, ensine-me a arte da caçada,” e outras vezes dizia com raiva, “O mais velho tem medo do mais novo.”

Até que Ologun disse para Apasha, “Muito bem, vamos caçar juntos. Prepare-se. Prepare sua lança e seu arco. Amanhã nós iremos à mata. Perseguiremos os animais selvagens. O animal que você ver primeiro, sera seu. Se houverem dois animais juntos eu ficarei com um, e você com o outro. Mas nós não iremos ‘grudados’ feito gêmeos. Onde quer que sua presa vá, persiga-a. Onde a minha for, eu persegui-la-ei. Quando o sol se pôr no céu nós iremos retornar e reunir nossas carnes.”

Então Apasha preparou-se. Ele pegou suas flechas e ajustou seu arco. Ele afiou sua lança e sua faca. Ele dormiu. Ologun dormiu. Eles acordaram quando o céu apresentou uma tênue luz. Eles partiram para a mata, e quando o sol apareceu eles já estavam longe da cidade. A princípio eles não viram caça alguma nem rastros de animais. Até que Ologum avistou um veado e seguiu-o prontamente, com Apasha correndo atrás dele. Ologun pegou o veado e o matou. Apasha ainda não o tinha alcançado. Quando Apasha chegou, Ologun já estava atrás de um antílope. Quando Ologun havia matado seu antílope Apasha ainda não tinha chego ao lugar. Ele chegou.

À distância ele avistou Ologun correndo atrás de um leopardo. Apasha nunca havia corrido tanto assim em sua vida. Foi tomado por uma imensa sede. Então o orisha Eshu estava na mata. Ele viu os caçadores indo aqui e acolá. Ele viu Ologun parar em um certo riacho e beber, e lá longe ele viu Apasha vindo. Eshu foi até o riacho. Ele agitou a água, tornando-a barrenta e imprópria para beber. Quando Apasha chegou ao lugar sua sede o atormentava. Mas ele não pôde beber a água pois estava suja. Com raiva ele disse a si mesmo, “Meu irmão fez isso de propósito.” Ele partiu.

Ologun abateu seu leopardo. Ele continuou correndo, perseguindo um javali. Ele foi até um riacho. Ali ele rapidamente matou sua sede e prosseguiu sua caçada. Eshu foi até a água e a remexeu, tornando-a imunda. Quando Apasha chegou ele procurou por um bocado de água limpa para beber, mas nem um pouco era potável. Sua raiva contra Ologun aumentou dentro dele. Ele disse, “Ologun quer tornar minha vida insuportável. Ele bebe, e me priva água.” Ele partiu.

Ologun matou seu javali. Matou um macaco. Matou um buffalo. Novamente ele veio até um riacho e bebeu. Após sua partida, Eshu veio e agitou a água tornando-a intragável. Quando Ashapa chegou ele percebeu que a água tinha sido recentemente enlameada. Embora sua sede era maior que antes, ele não podia bebê-la. Encheu-se de raiva e amargura. Ele voltou para trás, dizendo, “Meu irmão me quer morto no ermo.” Ele retornou ao lugar onde Ologun havia abatido o veado. E ali ele esperou.

Quando Ologun terminou sua expedição de caça ele também retornou. Onde quer que ele havia deixado o corpo de um animal, ele parava e cortava a carne. Ele cortou seu búfalo e esticou o couro em uma árvore. Cortou seu rato-do-mato, seu leopardo, e seu antílope, deixando suas peles nas árvores. Ele chegou ao local onde tinha apanhado o veado, e ali despiu-se de suas armas. Ele viu Apasha sentado lá. Ele disse, “Apasha, meu irmão. Pelo caminho eu procurei por um sinal seu, mas você não estava visível para mim.”

Apasha levantou-se. E nada disse. Ele atirou sua lança em Ologun e o matou. Ele pegou o veado e começou sua jornada de volta à cidade. No caminho ele encontrou Eshu sentado na trilha e segurando seu cajado. O cajado estava molhado e sujo de lama. Eshu disse, “Se você tem sede, beba,” e ofereceu a Apasha uma cabaça cheia de água lamacenta.

Apasha disse, “Você não tem água limpa?”

Ao que Eshu respondeu, “Esta água é pior que a que você teve acesso durante sua caçada?”

Apasha ficou sem palavras. Ele finalmente percebeu que não fora Ologun quem sujara os riachos, mas Eshu, que ele havia confundido as intenções de Ologum. Apasha prosseguiu mais um pouco. Ele parou. Ele disse, “Como poderei retornar à Iyagba? Meu irmão mais velho não desejou nada além do melhor para mim, e mesmo assim eu o assassinei. Ele foi um grande caçador. O que os homens diziam dele era verdade. Somente eu, o irmão caçula, presenciei a grandiosidade de Ologun. Nenhum outro homem testemunhou suas habilidades de caça além de mim. E mesmo assim eu não posso voltar para contar sobre isso. Como eu poderia dizer, “Sim, Ologun era mais rápido que o antílope e mais feroz que o leopardo’? Como eu poderia dizer, ‘Ologun foi o mais brilhante dentre todos os caçadores, ele está morto, pois eu mesmo o matei com minha lança’? Minha vergonha e meu pesar são muito grandes para suportar. Eu prefiro permanecer aqui no ermo.”

Apasha jogou o veado no chão. Ele voltou onde o corpo de Ologun estava caído. Ele sentou. E disse, “Ologun, meu irmão mais velho, aqui permanecerei para sempre.”

E assim Apasha o fez. Ele nunca se moveu desse lugar. Ele transformou-se num montículo de terra. E quando isso aconteceu, Ologun tournou-se numa fonte, da qual água límpida fluiu para que Apasha pudesse beber.

Obs:Na narrativa de Ologun e Apasha fica, à primeira vista, um tanto velado o motivo de Esu ter ocasionado o infortúnio de Apasha e a subseqüente ‘morte’ de Ologun.

Isso é estranho porque sabemos que Esu não é mal, a maldade pode ser executada por Esu mas como conseqüência de um ato injusto ou alguma falta de outrem, assim como a bondade (Odara) é por Ele veiculada àquele que não incorre no erro.

Entretanto uma análise mais cuidadosa logo revela a causa motora da fatal traquinagem de Esu.

Antes dos dois irmãos partirem à caçada eles haviam concordado em não seguirem o caminho um do outro. Mesmo assim Apasha seguia Ologun a cada empreitada deste.
A incoerência de Apasha o fez sedento e Esu vendo que esta sede era conseqüência de uma palavra não cumprida não poderia permitir que ela fosse saciada assim tão rápido, meio que como uma chance de Apasha refletir e perceber que se seguisse seu próprio caminho as coisas seriam diferentes.

Enquanto Apasha fora eternizado como um montículo de terra, a representação de seu derradeiro destino, Ologun por virtude de sua inocência e nobreza tornou-se um rio, a perpetuação de suas qualidades de generosidade e excelência enquanto homem.

Ologun e Eyinlé tiveram no Brasil e em Cuba, respectivamente, suas identidades matizadas com nuances de androginia, muito provavelmente devido a uma interpretação errônea decorrente do fato de ambos terem tido sua apoteóse, isto é tornaram-se iwin/orisha, ao transformarem-se em rios ou nascentes, algo em comum com divindades femininas muito populares, e justamente essa popularidade pode ter pesado nessa associação, porque transformar-se em rio era algo marcadamente próprio das Iyagbas fez com que na diáspora se desse essa atribuição equivocada aos dois.

Eru Awo é uma das saudações de Logun-Édé, em Ioruba 'rú' significa brotar, feito água ou vegetação. E ru Awo: Ele brotou do Mistério, Ele brotou admirávelmente (a wo).
Asé!

FONTE: Tales of Yoruba gods and heroes.

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