CACIQUE DE RAMOS, QUE EXISTE DESDE 1961, É ATACADO NAS REDES SOCIAIS POR CAUSA DE SUAS FANTASIAS DE ÍNDIO - TVR USM

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CACIQUE DE RAMOS, QUE EXISTE DESDE 1961, É ATACADO NAS REDES SOCIAIS POR CAUSA DE SUAS FANTASIAS DE ÍNDIO

Cacique de Ramos, que existe desde 1960, é atacado nas redes sociais por causa de suas fantasias de índio

Cacique de Ramos, que existe desde 1960, é atacado nas redes sociais por causa de suas fantasias de índio Foto: Gabriel de Paiva

Na contramão da irreverência dos blocos de rua, o debate sobre o carnaval politicamente correto ganhou força e invadiu a web, onde internautas dividem opiniões sobre o uso de fantasias como a de índio. A polêmica é tanta que alguns, agora, sugerem “cancelar” (termo que se assemelha a um boicote a pessoas que agem de forma considerada ofensiva nas redes) o tradicional bloco Cacique de Ramos, por causa dos figurinos utilizados por seus componentes. O grupo apareceu na discussão principalmente após a polêmica envolvendo a atriz Alessandra Negrini. Rainha do bloco Acadêmicos do Baixo Augusta, que saiu no domingo em São Paulo, ela virou alvo nas redes por ter usado um cocar e pintado o corpo com urucum e jenipapo para desfilar ao lado de indígenas como a ativista Sônia Guajajara.
O debate deu pano para manga e extrapolou as fronteiras de São Paulo. Ainda no domingo, no Rio, o historiador Luiz Antonio Simas saiu em defesa do Cacique de Ramos no Facebook após entrar num debate no Twitter. O clima esquentou quando ele se deparou com internautas dizendo que “o tempo do Cacique de Ramos passou, em virtude das fantasias de índios” e também com postagens criticando quem “insiste nesses rolés racistas”.
“Tem gente querendo cancelar o Cacique de Ramos. Alguns mais moderados sugerem conscientizar os caciqueanos. O Cacique de Ramos! Desfila desde 1960, tem preceito plantado na tamarineira, autorização de entidades indígenas para desfilar, sacralização do terreiro da Uranos e das fantasias, em um ritual de 60 anos do carnaval carioca, onde sagrado e profano se encontram”, postou Simas.
Fundador do bloco, Ubirajara Félix do Nascimento, conhecido como Bira Presidente, afirma que as fantasias — que mais lembram indígenas americanos —nunca tiveram a intenção de ridicularizar:
— Fazemos uma homenagem ao índio brasileiro. O meu nome é Ubirajara, todos os meus irmãos têm nomes indígenas. Esse amor e esse respeito estão no meu sangue, fazem parte da minha família. A minha bisavó vivia com os índios, conheço várias histórias dessa relação. E carnaval é descontração, aproveitamos o momento para levar uma mensagem de carinho e respeito.
Bira destaca a história do bloco, fundado em 1961 e onde surgiram nomes como Jovelina Pérola Negra, Beth Carvalho, Arlindo Cruz e Zeca Pagodinho, além do grupo Fundo de Quintal, do qual ele faz parte. Os desfiles pelo Centro costumam arrastar oito mil pessoas. Já as rodas de samba, gratuitas aos domingos, levam até quatro mil para a quadra da Rua Uranos.
— O bloco nunca usou a imagem do índio de forma negativa. Desfilo aqui há 20 anos e garanto — afirma Katinha do Cacique, de 35 anos.
Para Simas, não há um movimento orquestrado contra o Cacique, mas, sim, manifestações pontuais que são fruto de desconhecimento:
— Há certa ânsia para colocar uma série de debates identitários. Às vezes, acho que há certo açodamento, mesmo considerando esse debate importante. O black face é inadmissível; a gente pode discutir as próprias fantasias indígenas. Mas, no caso do Cacique, algumas pessoas não estão conseguindo separar o joio do trigo e compreender o impacto que o bloco tem, a sua seriedade e a sua dimensão sagrada.
Bira Presidente concorda:
— Há muitas outras coisas mais importantes que merecem ser debatidas, mas não são. Criaram uma polêmica com um bloco tradicional, mexem com quem leva descontração às pessoas — diz o fundador. — Já fomos enredo de várias escolas de samba, inclusive da Mangueira, em 2011. Ninguém tem uma história como a nossa.
Em nota, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) defendeu que a discussão "sobre apropriação cultural com responsabilidade, diferenciando quem quer se apropriar de fato das nossas culturas, ou ridiculariza-las, daqueles que colocam seu legado artístico e político à disposição da luta". A instituição também defendeu a atriz Alessandra Negrini.
"Por isso, causa-nos indignação que uma aliada seja atacada por se juntar a nós em um protesto. Alessandra Negrini colocou seu corpo e sua voz a serviço de uma das causas mais urgentes. Fez uso de uma pintura feita por um artista indígena para visibilizar o nosso movimento. Sua construção foi cuidadosa e permanentemente dialógica, compreendendo que a luta indígena é coletiva. Alessandra Negrini é ativista, além de artista, e faz parte do Movimento 342 Artes, que muito vem contribuindo com o movimento indígena. Esteve conosco em momentos fundamentais. Portanto, ela conta com o nosso respeito e agradecimento. E assim será, sempre quem estiver ao nosso lado", diz trecho do comunicado.

FONTE : extra.globo

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