ALGUMAS PALAVRAS SOBRE O PRÊMIO RODRIGO MELO :: PAULO FRANÇA - NDANDAMUNGOONGO - TVR USM

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ALGUMAS PALAVRAS SOBRE O PRÊMIO RODRIGO MELO :: PAULO FRANÇA - NDANDAMUNGOONGO


Em tempos obscuros, onde tudo parece insólito, algumas ações podem nos fortalecer e nos valorizar enquanto coletividade. Retomamos assim, nosso projeto iniciado desde ano passado, por ocasião do Centenário do Terreiro Tumba Junsara, Com o Kinsa, esse termo bantu que significa cuidar, nos remetemos a esse cuidado e troca entre as pessoas e os Bankisi, entre o humano e sua ancestralidade, por isso, ao evocarmos o Kinsa-kanda dentro de um terreiro convocamos a comunidade a se cuidar e a cuidar dos seus irmãos.

Trona-se cada vez mais importante e necessário o fortalecimento das nossas comunidades negras, historicamente preteridas pelo estado brasileiro, donde a narrativa nacional há muito não espelha as tantas vozes que forjam o Brasil. A milonga que fazemos e vivemos é um brado dessa mesma envergadura.
Esse é um dos resultados do trabalho árduo e prazeroso que temos realizado ao longo desses anos. Temos contado com o apoio inestimável dos nossos colaboradores para concretização dos nossos projetos.


Mesmo nesta época em que estamos com a nossa Casa Matriz aguardando as reformas, mantemos nossa esperança e esforço por assegurar a preservação e salvaguarda do nosso patrimônio material e imaterial, construindo ao logo desses mais de cem anos.


A divulgação desse vídeo chega em boa hora e nos serve de alento e resposta aos nossos ancestrais, por confiarmos em sua proteção. Foi a partir dos objetivos definidos, por nossa equipe de trabalho, que refletimos sobre a necessidade de:


- Repensar as categorias de matricialidade e pureza que estão no pano de fundo dos processos de tombamento de terreiros pelo IPHAN;


- Mobilizar a família Tumba Junsara e a comunidade de terreiros para debater os critérios de tombamento de terreiros aplicados pelo IPHAN e IPAC/BA (incluindo casas filhas) juntos a gestores públicos e comunidade universitária;


- Promover ações de educação patrimonial com a comunidade da Vila Colombina, gestores públicos e comunidade universitária, com o propósito de debater os conceitos de memória, identidades étnico-raciais e patrimônio;


- Gerar subsídios para instrução do processo de tombamento no IPHAN e IPAC
Por isso decidimos, em um esforço conjunto e partilhado:


- Produzir, a partir da perspectiva da comunidade do Terreiro Tumba Junsara, as narrativas de patrimonialização, por meio de materiais textuais e audiovisuais;


- Instruir os processos de tombamento do Terreiro com uma nova abordagem antropológica e historiográfica, considerando a tradição da nação angola.


Assim, ao percebermos que os critérios para tombamento de terreiros, utilizados pelo IPHAN e IPAC/BA, espelhavam relações de “africanismos” entre nações que não se aplicavam à realidade dos terreiros; valores que dificultam que o Estado enxergue relações de solidariedade e pertencimento entre os candomblés, e que acabam por dificultar o andamentos dos processos de reconhecimento. Entendemos ser necessário produzir nossa própria narrativa patrimonial.


Desse modo, apresentamos agora parte do material produzido como ferramenta de troca dos saberes construídos em sintonia com a família Junsara espalhada pelo mundo, assim como, todo povo de santo e a comunidade acadêmica.


Esperamos superar os desafios atuais com fé e compromisso social, para assim garantirmos a existência do povo negro, nessa grande milonga que une por meio da identificação toda nossa diversidade cultural.


Foi com esse conjunto de ações que fomos os vencedores do Prêmio Rodrigo 2019, a maior premiação da área de patrimônio cultural no país atualmente. Um reconhecimento do valioso trabalho por nós realizado.



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