SÉRIE OURO: PORTO DA PEDRA VAI HOMENAGEAR MÃE STELLA DE OXÓSSI, ESCRITORA E YALORIXÁ QUE LUTOU PELO RESPEITO AO CANDOMBLÉ - TVR USM

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SÉRIE OURO: PORTO DA PEDRA VAI HOMENAGEAR MÃE STELLA DE OXÓSSI, ESCRITORA E YALORIXÁ QUE LUTOU PELO RESPEITO AO CANDOMBLÉ

 Ela criou uma biblioteca, abriu uma escola e escreveu dez livros para difundir seus conhecimentos. Carnavalesca fala da importância do legado de Mãe Stella, que registrou por escritos esses ensinamentos.



A Unidos do Porto da Pedra, escola de São Gonçalo, na Região Metropolitana, vai homenagear Mãe Stella de Oxóssi, no carnaval de 2022, na Sapucaí. Escritora e yalorixá, ela lutou pelo respeito ao candomblé.

Segundo a tradição, os orixás escolhem seus filhos, suas cabeças, seus oris. E regidos pelo amor eles cuidam deles. Oxóssi, o caçador de uma flecha só cora a filha que ganhou o mundo: mulher, negra, candomblecista, Mãe Stella de Oxóssi foi a mensageira dos ensinamentos de fé, que a escola vai apresentar na Sapucaí.

A carnavalesca Annik Salmon conta que esse é o primeiro enredo afro da Porto da Pedra. E contar a história de Mãe Stella surgiu naturalmente.

"Foi uma escolha que veio como magia, como é esse enredo. Uma das coisas muito importantes do candomblé é a oralidade que é passado dos mais antigos para os mais novos esse conhecimento. E ela vê que isso é importante. mas ela falou: é preciso registrar. Tem uma frase dela que deu o norte do meu enredo que foi "o que não se registra o tempo leva". Então, isso mostra que é importante a gente deixar registrado e marcado ", disse Annik.

Mãe Stella disse uma vez que seu papel era mostrar um pouquinho lá fora, do que é feito dentro dos terreiros. E que era sua tarefa levar o conhecimento que estava a seu alcance para que o povo escute, entenda e aprenda a respeitar o semelhante e a crença dos outros.

Mãe Stella de Oxóssi recebeu o título de doutora honoris causa por duas universidades da Bahia e fez parte da Academia de Letras baiana. Ela se dedicou à educação.

"Ela que criou uma biblioteca Itinerante, escreveu mais de dez livros, várias publicações, foi reconhecida mundialmente. Ela viajou à África e aos Estados Unidos e conseguiu levar todo o seu conhecimento e toda a importância dessa religião, dessa cultura africana, para o mundo", disse a carnavalesca.

A auxiliar administrativa Ana Vitória diz que Mãe Stella tem uma importância atemporal no candomblé.

"Ela foi um marco nas religiões de matriz africana porque ela soube desfazer o sincretismo. Ela soube defender a mulher negra e os direitos da mulher e como mãe de santo dentro de um terreiro. Ela é uma ancestral forte que é um exemplo a ser seguido como líder religiosa, como mulher, como militante, como revolucionária", disse Ana Vitória.

O babalorixá Ivan D'Logunedé destaca que ela levou esse saber ancestral para a literatura e lutou contra a intolerância.

"Além desse saber, ela foi essa energia da natureza. Nesses dias de hoje que a gente está vivendo, as pessoas atacam por ignorância. Eu falo da ignorância que é a falta de conhecimento. Mãe Stella trouxe esse conhecimento, ela fez livros. A cultura está aí. O que eu não conheço eu não posso criticar", disse o babalorixá.

Ivan D'Logunedé diz que o orixá Oxóssi tem tudo a ver com a energia da natureza. Que traz prosperidade e a certeza que tudo vai dar certo. Segundo ele, mesmo que os caminhos sejam tortuosos, a flecha dele vai guiar as pessoas para que elas cheguem a seus objetivos.

Em São Gonçalo do Retiro, em Salvador, a fé de Mãe Stella de Oxóssi permanece viva até hoje. O sobrinho dela e compositor do samba, Adriano Abiodun, diz que tem uma relação de muito amor com a yalorixá.

"Minha relação com minha tia é uma relação de orgulho, uma relação da qual sinto muita falta, uma relação de amor, de carinho. Era uma convivência dupla, por ser sobrinho e por ser filho de santo. Mãe Stella teve uma educação muito rígida onde a escola e o estudo era primordial. Então, essa didática dela veio para dentro do candomblé", contou o sobrinho.

Adriano lembra que Mãe Stella criou uma escola de ensino fundamental. Ela lutou a favor, em prol do negro, do povo de matriz africana. Ele diz que a expectativa é grande poder ver mais uma vez o nome de Mãe Stella sendo projetado, desta vez, em forma de música.


Letra do samba

Hoje vai ter festa no orum

Mata virgem deixa serenar

Brilha uma estrela

Assenta o orixá

É o caçador seu eledá

Okê arô! Okê okê arô!

Menina vagueia ao som do tambor!

Okê arô! Okê okê arô!

Pisa na areia e bate o tambor!

Chefe da casa escolheu yaô (ê kaô)

Quem veste branco abençoa iyá (epa babá)

Protege a senhora do ouro

A lei é o grande tesouro

Seis pra defender

Seis para julgar

O santo dança céu relampejou!

Não tem demanda! Não tem cativeiro

Meu filho, antes de nos darem cor

Já escutava a voz dos terreiros

Tem fita vermelha e branca

Alma na ponta da lança

Ensina nossas crianças: Destino é lutar

Memórias o vento não pode levar

Escritas à luz do luar

Roda yabá é ginga!

Canta pra firmar curimba!

No toque do aguerê chamei o povo

Agogô mi ro lese, mãe stella motumbá!

Flecha certeira de odé eu quero ver segurar

Cabeça feita quando o tigre passar.



FONTE G1

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