CARNAVAL 2023: UNIDOS DA PONTE TERÁ ENREDO SOBRE RACISMO RELIGIOSO
"A frase que eu sempre ouvi minha vó falar "nossas coisas que estão na mão da polícia". Nossas coisas que estão nas mãos da polícia”, disse a Iyalorixá mãe meninazinha de Oxum
Mãe meninazinha de Oxum ouviu essa frase da avó durante toda a juventude e decidiu começar uma luta que duraria mais de 30 anos: recuperar mais de 500 objetos sagrados apreendidos entre 1890 e 1946 pela Polícia do Rio de Janeiro. Uma época em que o Candomblé e a Umbanda eram religiões criminalizadas.
"É muito doído porque eu via o sofrimento dela e das tias antigas o mesmo sofrimento por causa da religião, e a minha avó falava com muito sentimento. A impressão é que ela estava sentindo dor e devia estar sentindo mesmo quando tocava nesse assunto. "Nossas coisas que estão na mao da polícia. Foi essa frase que me levou a brigar por conta do nosso sagrado. Eu ouvi desde criança cresci com isso guardado e quando ela falava estava me dando responsabilidade de procurar, ela estava me dando isso e eu fiz. Nós fizemos”, comentou mãe meninazinha de Oxum.
É essa luta que a Unidos da Ponte vai levar para a Marquês de Sapucaí no enredo "Liberte nosso sagrado: o legado ancestral de mãe meninazinha de Oxum".
"Para além da homenagem a gente quer trazer a história do racismo religioso. O nosso sagrado tem um valor que para muitos pode ser simbólico pela questão dos objetor. Falar sobre Candomblé, Umbanda, é falar sobre ancestralidade. Então você tem toda uma questão não só dos ancestrais, mas de todos os praticantes que sofreram e que sofrem até hoje. Então a gente traz ela como personificação de uma luta diária que é muito necessária”, afirmou o carnavalesco Rodrigo Marques.
Em 2020, mãe meninazinha de Oxum conseguiu libertar a coleção de objetos sagrados que estavam esquecidos no museu da Polícia Civil. Hoje, o material está no Museu da República passando por um processo de restauração para que enfim seja exposto e simbolize a luta contra a intolerância religiosa.
HISTÓRIA DO ENREDO
A história da Iyalorixá já foi retratada em dois documentários que serviram de pesquisa para a escola.
"Esse é o desdobramento muito maravilhoso e muito feliz da gente celebrar essa vitória que é a transferência do acervo na Sapucaí com a unidos da ponte e com São João de Meriti. A importância dela para o Candomblé no Rio para as religiões como um todo, a sua liderança política e religiosa. Tenho certeza que vai ser um momento muito feliz entrar na Avenida com esse enredo, com essa história e com a importância para nossa sociedade”, falou o cineasta Fernando Sousa.
A Unidos da Ponte foi fundada em 1952 por duas famílias e inicialmente só desfilava em São João de Meriti. A partir de 1959 se filiou à associação das escolas de samba da cidade do Rio.
"Cantar, rodar, ter simpatia, rir bastante, estar bem maquiada, no desfile faço tudo, sempre alegre. Baiana é isso, apresentar bem a escola. Depois de baiana só resta a velha guarda para onde eu não quero ir (risos)”, disse Nereide Alves de Oliveira, que faz parte da agremiação há 60 anos e há 40 está na ala das baianas.
FONTE: Sob supervisão de Christiano Pinho - Band Rio
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