NARRATIVE DJEJE MAHIN – SEGUNDO CONSTÂNCIA DE AVIMADJI - TVR USM

Breaking News

NARRATIVE DJEJE MAHIN – SEGUNDO CONSTÂNCIA DE AVIMADJI

Nenhuma descrição de foto disponível.

A noção do candomblé no Brasil parece haver-se restringido à cultura yorubana, em detrimento às demais culturas originárias de outros povos africanos que também contribuíram maciçamente para o surgimento de uma manifestação religiosa exclusivamente brasileira.

Assim como os nagô, os jêje pertencem ao grupo sudanês, tendo sua origem num mesmo agrupamento étnico que subdividindo-se, atingiu vários estágios de evolução cultural.

Atualmente os praticantes da ritualística jeje são oriundos de dois núcleos, ambos com sede no Estado da Bahia: o Seja Undê, em Cachoeira e o Bogun em Salvador.

Foi a africana Ludovina Pessoa quem fundou o Zô Godô Bogun Malê Rundô, em Salvador, Bahia, dando origem então ao denominado Candomblé Jêje.

Após a solidificação do Bogun, Ludovina fundou em Cachoeira, cidade próxima a Salvador, o Seja Undê, empossando ali, Maria Luiza Gonzaga de Souza, conhecida como Sinhá Maria Ogorensi Misimi.

Durante muitos anos as duas casas funcionaram em uníssono, com o Bogun servindo como matriz.

Depois da morte de Maria Ogorensi o Seja Undê permaneceu fechado por muito tempo, embora o cargo maior da casa já tivesse sido outorgado pela própria Ogorensi, a Dionísia da Conceição, ou Maria Balé, que somente muito tempo depois, viria assumir suas funções.
Na época, Maria Balé que fazia parte do Jêje Modubi na roça de Zé do Brechió, quando assumiu e Seja Undê, plantou a casa Kututó (Egun), introduzindo assim na casa Mahi, fundamentos de outra ramificação Jêje. Como no Jêje Mahi não é permitido casa de Kututó, a roça começou a decair.

Maria Balé recolheu durante todo o tempo em que ali esteve três barcos, sendo que uma das componentes do primeiro barco, Adalgisa, conhecida como Sinhá Parasasi, seria escolhida para substituí-la por ocasião de seu falecimento.

Já no comando da casa, Pararasi recolheu alguns barcos, conseguindo assim, cumprir a missão que lhe foi confiada.

A maioria dos iniciados daquela época já faleceu, o que dificulta em muito qualquer tentativa de um aprofundamento maior nas pesquisas elaboradas e, segundo consta, como reminiscentes só existe hoje duas filhas de santo de Maria Ogorensi, duas de Maria Balé e uma de Pararasi.

Ainda na gestão de Pararasi, a roça conheceu uma nova fase de abandono e decadência e, para que não acabasse definitivamente e fosse transformada em pasto para gado, Bessén ordenou que Gaiakú Aguéssi assumisse o comando, com a orientação de proceder a todas as obrigações anuais da casa que, já a algum tempo, vinham sendo negligenciadas, contudo, para tanto, com o auxilio de Augusta Lokôsi e da própria Pararasi.

Segundo as antigas tradições, no jêje, não se recolhe barco com um número par de iniciandos e, Gaiakú Aguési, desprezando este fundamento recolheu um barco de dois Oxum e Azunsun pelo que pagaria um preço muito alto.

A partir de então, a casa decaiu vertiginosamente. Gaiakú Aguési adoeceu gravemente, chegando mesmo por duas vezes, entrar em estado de coma.

Corria o ano de 1962 quando o pai de Santo pernambucano, radicado no Rio de Janeiro, Zezinho da Boa Viagem, filho de Tata Fomutinho e neto de Maria Ogorensi, resolveu visitar sua raiz de origem, que na época estava entregue aos cuidados do Ogan Caboclo de Cachoeira, que viria a falecer pouco depois, sendo substituído por Ogan Bobosa.

Uma forte amizade se estabeleceu entre Zezinho e Bobosa e o primeiro com seus próprios recursos, prestou substancial ajuda financeira a casa, recebendo em troca, fundamentos até então guardados a sete chaves e absolutamente inacessíveis aos cariocas.

Para que Gaiakú Aguési pudesse desfrutar de mais conforto, Zezinho comprou-lhe uma casa na ladeira Manoel Vitório, mas nem dessa forma o ânimo da velha sacerdotisa melhorou e, acreditando-se enfeitiçada sentada no mais absoluto silêncio, comendo parte do alimento que lhe serviam.

Já se preparava a internação de Aguési num asilo para velhos desvalidos de Salvador quando, uma senhora, que segundo informes teria sido enviada pelo próprio Zezinho de Bao Viagem, levou-a para Belo Horizonte.

Pouco tempo depois, Zezinho, com o apoio de alguns de seus filhos de Santo levou-a para o Rio de Janeiro, onde foi publicamente homenageada numa monumental carreata e apresentada ao público como a mãe de Santo mais velha do Brasil, com cobertura total de toda a imprensa escrita, falada e televisada.

Na oportunidade, algumas inverdades foram divulgadas como a afirmativa de que a veneranda senhora tinha 120 anos de idade quando, na verdade, não tinha completado ainda 83 anos de existência.

Disseram ainda, que possuía mais de 100 filhos de Santo, mas na realidade, nunca recolheu outro barco além daquele composto por dois iniciandos. Afora o tabu quebrado por recolher o referido barco, uma outra interdiçãoteria sido desobedecida pela sacerdotisa, esta inerente ao seu próprio Vodun.

Segundo as Rungã do Mahi, Agué é um menino, pequenino, novinho, por isso isso, quem é de Agué não pode iniciar nenhuma pessoa no culto, embora possa ser detentora do poder e do saber, pode presidir todos os cultos e até mesmo orientar a iniciação de neófitos.

Depois da vinda de Gaiakú Aguéssi ao Rio de Janeiro, e como resultado de enorme publicidade em torno do acontecimento, estabeleceu-se aqui, uma grande confusão em relação aos títulos pertencentes aos sacerdotes e sacerdotisas de hierarquia máxima no Jêje Mahi.

O que é Gaiakú? O que é Donè e Doté? O que é Mejitó? Quem por direito, pode ostentar este ou aquele título?

Para por fim às dúvidas suscitadas, apresenta-se à guisa de apêndice da presente matéria, a relação dos títulos inerentes aos cargos de pai e mãe de Santo do Jêje de Cachoeira.

O culto jêje é dividido em clãs ou famílias de divindades genericamente denominadas Vodun.

A assimilação da cultura yorubana fez com que um novo grupo, composto de divindades nagô, fosse incorporado ao culto, sob a denominação de Nagô-Vodun.

Os Voduns mais conhecidos e cultuados no Bogun e no seja Undê pertencem às famílias de Dâ e Kaviôno, embora não se desconheça a existência de outras famílias menos populares.

Da família de Dã destacamos, dentre outros, os seguintes Vodun: Insê, Akasú, Akotokuèn, Dokuén, etc.

Da família Kaviôno ou Kavioso (Hevioso), destacamos: Posú, Sobô, Lôko, Badé, Akarombé, Abatáoiô, Azoônodô, Zô Godô Bogun, Averekete, Jakólotino, etc.

Os Nago-Vodun são: Ogun, Agué, Odé, Oyá, Oxum, etc.

As relações acima apresentadas são indispensáveis para que se compreenda os significados dos títulos atribuídos aos pais e mães de Santo, que se distinguem de acordo com as divindades a que pertençam e às suas respectivas origens familiares.

As sacerdotisas cujos Vodun de cabeça pertençam a família de Dâ, são denominadas Mejitó e genericamente chamadas de Ogorensi. São reverenciadas pelos componentes da casa com a seguinte saudação (que corresponde a uma solicitação de benção):Mejitó é benôi. A resposta é: E benôi. Aqueles cujos Vodun pertençam à família de Kaviôno, são denominadas Doné, e os sacerdotes do sexo masculino pertencentes ao mesmo clã, são chamados de Doté. A saudação a eles dirigida por seus filhos é: Doné (ou Doté) aó. A resposta é simplesmente: Aó tin.

Para aqueles que pertençam a qualquer divindade do grupo familiar Nagô-Vodun, dá-se o título de Gaiakú (para ambos os sexos), e a sua benção é pedida com as seguintes palavras: Gaiakú kolofé, que tem como resposta uma das seguintes variantes: Olorun modupé ou Kolofé Olorun, sendo que a primeira está em desuso.

Para se entender o termo Gayaku é necessário voltar no tempo na formação do reinado djeje...

Àcé Đaho Vòdún Aholo Gbèsèn

FONTE : Pesquisa da TVR USM com a equipe do 
Jornal Painel Cultural 

Nenhum comentário