ALCIONE LEMBRA COMO VIROU 'MARROM', O DIA QUE LEVOU DURA DE PM E COMO 'SE ACHOU' HÁ 50 ANOS NA MANGUEIRA, ESCOLA DA QUAL É ENREDO - TVR USM

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ALCIONE LEMBRA COMO VIROU 'MARROM', O DIA QUE LEVOU DURA DE PM E COMO 'SE ACHOU' HÁ 50 ANOS NA MANGUEIRA, ESCOLA DA QUAL É ENREDO


 

Cantora vai ser homenageada com enredo deste ano pela escola de coração, onde criou o projeto social Mangueira do Amanhã.


Em entrevista para o Jornal Nacional, a cantora Alcione fez uma memória de sua vida e dos 50 anos de Mangueira, escola que a homenageia esse ano, com o enredo “A negra voz do amanhã”.

A "Marrom" lembra a origem do apelido – a semelhança com a mulher de um artista que já era chamada assim –; do dia em que levou uma dura policial e foi parar na delegacia e liberada ao ser reconhecida por um PM; fala da sua relação com a fé; e faz elogios ao samba que leva sua vida para a Sapucaí: "O povo vai cantar ele na avenida", diz.

Leia abaixo a entrevista com Alcione para o repórter Hélter Duarte.

Tem uma história que você estava com piston voltando de uma noite e um policial te deu uma dura. Como foi?

Ele disse "Ô neguinha", e eu falei que neguinha era o passado dele. "Você é muito saliente, o que você leva nessa sua sacola"? Eu disse que não interessava e ele me botou dentro do camburão. Já tinha uma menina lá dentro, que disse: "Ah, você é nova na praça" e eu: "nova de que, menina?". Ele me levou para a delegacia e falou que era para me "dar uma vadiagem". Tinha um policial que sempre ia na noite me ver tocar trompete. Ele me reconheceu e disse que eu era música, aí me largaram e eu fui pro trabalho.

Como surgiu o apelido de Marrom? Você gosta?

Eu nunca desgostei, só deixei para lá. Tinha um amigo meu que nós viajamos pro nordeste inteiro de Kombi para fazer shows. Eu ganhava 5 cruzeiros por show. Eles já eram famosos, então era sucesso certo. Um dia ele disse que eu parecia com a mulher dele: "Vou te chamar de marrom por causa dela". O apelido ficou, eles morreram e o apelido ficou comigo.

Uma parte da sua vida antes de vir pro Rio foi no Maranhão. Como é que o Maranhão moldou a artista que se criou?

O Maranhão moldou uma pessoa que acredita em Deus e que respeita os mais velhos. Aprendi a respeitar a palavra dos meus pais, amar meus irmãos, minha família em primeiro lugar, abaixo de Deus. Sempre respeitei nossos costumes e a reza dos outros.

Como começou sua relação com a verde e rosa?

Desde quando eu abri a revista O Cruzeiro, que vi aquela ala de baianas, achei verde e rosa bonito. Pedi pra minha mãe fazer um vestido para mim e outro para Ivone (irmã), para a gente andar de par de jarro. Quando eu vim pro Rio, a primeira coisa que eu disse foi ‘onde fica essa Mangueira?’.

O que a Mangueira representa para você? Qual a importância na sua vida, como pessoa e como artista?

Como pessoa, eu me achei na Mangueira. Aqui que eu queria me divertir, brincar, me dedicar. Criei a Mangueira do Amanhã porque as crianças andavam muito sem fazer nada. Eu sou alguém daquela comunidade, pertenço e não tem jeito.

O enredo fala da sua fé. A gente pode dizer que a fé é o pilar da sua vida?

Como uma pessoa pode vir pra vida sem fé? Eu tenho muita fé em Deus e a minha parte africana solicita, me pede que eu tenha fé nos meus orixás.

Você foi pioneira na atuação comunitária. Foi um chamado?

Só se for espiritual, acredito que seja. Acredito nos caminhos que a vida leva a gente. O presidente da época, seu Carlinhos Doria, me disse [sobre a Mangueira do Amanhã] "Eu já tenho pouco dinheiro para uma Mangueira, como podemos ficar com duas?". Eu disse que ia estender a mão e comecei a pedir retalho de pano pra dona Zica, dona Neuma, o que sobrava das baianas. Eu ia no Império [Serrano] e pegava o que sobrava do verde, a Imperatriz também me ajudou, todo mundo um pouco.

Como surgiu o convite de você ser enredo da Mangueira e como bateu em você quando te disseram?

Foi Guanayra [presidente da escola que] me disse que eles queriam que eu fosse o enredo. Eu falei "O que, meu Deus?". Na minha cabeça, o que eu vou fazer como enredo, se eu nunca me imaginei? Mas não dava mais para dizer não e eu sou com muita honra enredo da minha escola.

Você já olhou o que estão preparando?

Eu deixo a escola a vontade para fazer o que ela quer, mas tenho ido no barracão. Palpite eu não dei nenhum, quantos anos a Mangueira já desfila? Eu vou ensinar ela a desfilar? Não mesmo.

Os trechos do samba falam sobre jazz, amor, valores e esperança. Acha que define você?

Esse samba é muito bom. Quando eu li a sinopse e ouvi o samba, eu disse: "É ele, é o cara mesmo". É muito bom o samba e o povo vai cantar na avenida.

Você sempre teve posições muito fortes, seja na defesa das mulheres ou racial. Você acha que o samba foi sua arma para defender essas bandeiras?

Samba é uma arma para qualquer mulher mangueirense, para isso existe a força feminina do samba, que começou com dona Zica e dona Neuma. Hoje tem Evelyn Bastos, várias pessoas. A força feminina no samba é muito forte. Não dá para falar no samba sem falar em mulheres.

A música é sua missão?

A música é a minha missão. João Nogueira acertou quando mandou "quando eu canto é para aliviar meu pranto, e o pranto de quem já tanto sofreu". Nosso poeta, não tinha para ninguém. A música é a minha missão, não tem jeito.




Texto :  Hélter Duarte, Lucas Soares, TV Globo

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