RJ - EVELYN BASTOS, RAINHA DE BATERIA DA MANGUEIRA, DETALHA ESCOLHA DE FIGURINOS E EXPLICA RESISTÊNCIA A COBRIR O CORPO
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Evelyn Bastos, rainha de bateria da Mangueira — Foto: Reprodução/Instagram e Vitor Melo/Rio Carnaval |
Mangueirense está no seu 12º ano no posto da Verde e Rosa e destaca a autonomia de suas decisões
Antes mesmo de atravessar a Passarela do Samba, Evelyn Bastos já despertava comentários no ensaio técnico deste fim de semana. O corpo e o estilo da professora de Educação Física e historiadora, cria do morro da Mangueira, estavam nas rodas de conversa das arquibancadas e dos camarotes. Dois mil e vinte e cinco será seu 12º ano como rainha de bateria da Verde e Rosa; tempo suficiente para identificar sua representatividade. Ser da favela da Zona Norte é seu principal estandarte, seguido pela força de sua ancestralidade e das referências espirituais.
Nos ensaios de rua, o figurino despojado tem explicação: não estar muito distante da realidade das meninas e mulheres da comunidade.
— Sempre priorizei roupas básicas, através das quais as pessoas pudessem acessar a minha essência. Desde o início do reinado até agora, tento usar shorts jeans e body ou macacão colado no corpo. Isso comunica a minha essência. E as pessoas vão conseguir ler isso através da minha vestimenta, no quintal da minha casa, fazendo samba, arte, para as pessoas que amam a Mangueira. Minha vestimenta não mudou desde o primeiro ano de reinado até agora — diz ela, aos 31 anos, e também no cargo de diretora cultural da Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba).
Valorizar a espiritualidade, seja na maneira como se apresenta ou ao usar patuás, também diz sobre suas intenções: focalizar as religiões dos verdadeiros criadores do carnaval. Em 2023, quando a escola de samba desfilou o enredo "As Áfricas que a Bahia canta", Evelyn usou um Ìrùẹṣin, cetro para afastar espíritos negativos chamados de eguns. O cabelo, quase sempre solto, também tem um significado especial:
— Sou uma leonina. Amo usar cabelos compridos, volumosos. E normalmente estou de cabelo solto. Isso é uma preferência associada ao espiritual. Os cabelos soltos deixam meu ori (expressão em iorubá que significa cabeça) livre. É muito importante — explica.
Há alguns meses, num evento no Museu do Samba, Evelyn, ao falar de seu posto de mulher do samba, também foi categórica ao falar da nudez e de sua resistência a cobrir o corpo. Esta discussão surgiu anos atrás, sobretudo com foco nas construções históricas do passado e da objetificação feminina. Numa palestra, a historiadora defendeu a importância da liberdade de decisão: "A hipersexualização não é uma problemática minha. Eu não posso e não vou cobrir o meu corpo para mostrar nenhum tipo de intelectualidade para caber numa pauta de um senhor e de ninguém. Essa hipersexualização não foi criada por nós, foi criada por eles. É uma problemática deles (...) Os nossos corpos, nossas ideias, nossa ideologia estão sempre prontos para atuar com autonomia".
— Sempre tive, através das redes sociais principalmente, um posicionamento muito claro em relação à minha figura de mulher ou de mulher que usa a nudez como arma, sensualidade. A maioria das pessoas entende isso -- afirma Evelyn, que diz ouvir cantadas e não se importar: — A cantada é inevitável. Não tenho muito problema com isso. Sempre levei cantadas de bom humor, na boa. Os elogios são sempre respeitosos. E posso falar que nunca sofri um desrespeito.
Por Thayná Rodrigues
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