EM ENREDO SOBRE JOÃOZINHO DA GOMEIA, GRANDE RIO TERÁ SETOR SOBRE INTOLERÂNCIA RELIGIOSA - TVR USM

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EM ENREDO SOBRE JOÃOZINHO DA GOMEIA, GRANDE RIO TERÁ SETOR SOBRE INTOLERÂNCIA RELIGIOSA

O carnavalesco Gabriel Haddad (de óculos) no terreiro de Pai Celinho de Omolu. Grande Rio vai abordar intolerância religiosa em enredo sobre Joãozinho da Gomeia

O carnavalesco Gabriel Haddad (de óculos) no terreiro de Pai Celinho de Omolu. Grande Rio vai abordar intolerância religiosa em enredo sobre Joãozinho da Gomeia Foto: Cléber Júnior / 

Quando entrar na Avenida, no ano que vem, a Acadêmicos do Grande Rio não vai contar só a grandiosa história do babalorixá baiano Joaõzinho da Gomeia. Com o enredo “Tata Londirá: o canto do caboclo no Quilombo de Caxias”, a agremiação de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, vai trazer à tona, no último setor, a intolerância religiosa, que tanto tem atingido templos religiosos de matriz africana na região.
No Terreiro da Gomeia, inaugurado por Joãozinho nos anos 40, na Vila Leopoldina, em Caxias — e que hoje é um terreno abandonado — ele recebeu figuras ilustres da arte e da política, além de ter iniciado milhares de filhos de santo. Gay, negro e candomblecista, nunca foi impedido de exercer sua religião.
Cenário bem diferente do atual em algumas regiões do município. Só este ano, segundo denúncias que chegaram à Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR), foram 70 casos de intolerância religiosa em terreiros no estado do Rio. Duque de Caxias é a cidade que lidera: foram 15 casos.
— No final da sinopse do enredo, dizemos que os terreiros são como mocambos (pequenas aldeias) nos quilombos. A intolerância religiosa vai ser tratada no final do desfile, representando Caxias como um quilombo e Joãozinho como um dos grandes incentivadores desse quilombo — diz o carnavalesco Gabriel Haddad, que assina o enredo com Leonardo Bora.
Filhos de santo no terreiro Ilê Axé Obaluaiyê Jagun, em Duque de Caxias
O babalorixá Célio de Aguiar Celso, o Pai Celinho de Omolu, tem seu terreiro Ilê Axé Obaluaiyê Jagun, na Vila Centenário, em Caxias. Apesar de nunca ter sofrido nenhum tipo de intolerância religiosa na região, ele ressalta a necessidade de levar o tema para a Avenida:
— Esse enredo foi um sinal dos orixás. É um enredo forte e profundo nesse momento tão crítico que vivemos. É o momento da Grande Rio, através do desfile, combater esses casos.
De Joãozinho, Pai Celinho reúne as histórias e tem até um parentesco espiritual. Sua mãe biológica frequentava a casa do babalorixá baiano e sua mãe pequena (segunda pessoa mais importante do terreiro) era sua filha de santo.
— Meu pai de santo, Waldemiro Baiano, era muito amigo dele. Joãozinho sempre foi uma pessoa muito forte e decidida a estabelecer candomblé na nossa cidade — afirma Pai Celinho, que, após a morte de Pai Waldemiro Baiano, concluiu suas obrigações religiosas com Mãe Carmen de Oxalá, do Terreiro do Gantois, na Bahia.
Enredo afro após 26 anos
Desde 1994 sem desenvolver um enredo afro, a Grande Rio, ao falar de Joãozinho, quer se aproximar mais da comunidade. Os carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora têm colhido depoimentos de quem conviveu com o babalorixá:
— Esse enredo traz a noção de pertencimento. Temos que fazer algo que a pessoa que vai desfilar se sinta pertencente e feliz em cantar aquele enredo. Esse foi um dos grandes motivos que nos levaram a escolhê-lo — explica Gabriel, ressaltando a participação da jornalista Luise Campos na escolha.
Resistência: o babalorixá Linaldo T’Ogun com as guias que confecciona
Resistência: o babalorixá Linaldo T’Ogun com as guias que confecciona Foto: Cléber Júnior 
Entre os depoimentos está o de Sandra Gomeia, a Seci Caxi, que herdou o terreiro de Joãozinho aos 10 anos de idade, quando ele morreu. Ela foi escolhida pelo jogo de búzios, mas nunca assumiu, conta Gabriel:
— Hoje ela vive num bairro onde era o terreiro de sua mãe.
Joãozinho abriu seu terreiro na Rua da Gomeia, em Salvador. Em 1948, veio para o Rio de Janeiro e inaugurou o Terreiro da Gomeia, em Caxias. O local era frequentado por personalidades. Apaixonado por carnaval, música e dança, também se apresentava em shows com coreografias que ele mesmo desenvolvia.
FONTE : EXTRA

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