A LIÇÃO NO CEMITÉRIO!
A LIÇÃO NO CEMITÉRIO
A cena se repetia silenciosamente todo dia 12 de cada mês há pelo menos nove anos.
Apesar dos túmulos serem lado a lado, nunca se falaram todos estes anos.
Geralmente ela chegava antes.
Sempre bem arrumada, pontualmente às 10:00, começava primeiro limpando o túmulo do seu marido com água e sabão. Em seguida, tirava da bolsa um vidro de um caro perfume importado e o derramava lentamente sobre a lápide negra de granito da sepultura. Por último, tirava da embalagem várias flores, todas com suaves e penetrantes aromas silvestres e as colocava, uma a uma, no vaso de bronze do jazigo.
Ele chegava sempre por volta das 10:30.
Parava em frente ao túmulo da esposa, ficava imóvel por alguns minutos em profunda reflexão, depois tirava de uma sacola de lona um prato com comida, talheres, uma taça e uma garrafa de vinho. Colocava tudo sobre a sepultura, também de granito negro.
Naquele dia a mulher não aguentou. Já queria ter perguntado há anos, mas nunca teve coragem. Chegou a hora, pensou ela! Lentamente, se aproximou dele e perguntou:
- Vejo o senhor há anos colocando comida e bebida sobre o túmulo. Sempre achei sua atitude ridícula. O senhor acha mesmo que o morto come e bebe o que o senhor coloca?
O homem parou, olhou para a mulher, fixou o túmulo ao lado onde ela estava, respirou fundo e respondeu:
- Senhora, eu também a observo estes anos todos. Sempre quando aqui venho para visitar o túmulo da minha esposa, sinto, vindo do túmulo onde a senhora está, um forte cheiro de perfume e também o aroma das flores que a senhora coloca no vaso. Por acaso, a senhora acha mesmo que o morto cheira o aroma do perfume e das flores que a senhora coloca?
A mulher se surpreendeu com a resposta e o homem concluiu:
- O mal das pessoas é querer sempre criticar os outros, sem olhar primeiro para si. É mais fácil apontar os defeitos do outro do que reconhecer os seus próprios. As pessoas preferem falar mal daquilo que outros fazem, sem sequer procurar entender o porque das coisas. As pessoas estão sempre muito mais preparadas para criticar do que para fazer elogios. As pessoas preferem muito mais cuidar e falar da vida dos outros do que tomar conta da sua, muitas vezes bagunçadas e de pernas pro ar. As pessoas preferem acreditar nas mentiras do que nas verdades, principalmente quando as mentiras destroem as outras. Portanto, senhora, cuide do túmulo do seu morto e deixa-me cuidar do meu. Cada um de nós está aqui para um propósito individual e não para bisbilhotar a vida do outro. Façamos bem aquilo que nos propomos. E se não pudermos ajudar o outro ou entendê-lo, melhor ficar quieto e calado. Aproveitando a ocasião, aceite os meus mais sinceros sentimentos pelo seu morto.
A mulher abaixou a cabeça e meio desconcertada saiu dali de fininho, ainda meio sem graça. Mas, apesar de tudo, ficou feliz. Há tempos não ouvia tantas verdades.
FONTE : Diego Campoz
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