VAMOS FALAR UM POUCO SOBRE A POSTURA DESSA IMPORTANTE FIGURA NO SALÃO, DURANTE AS FESTIVIDADES

O Ògán sempre ocupou um papel de destaque durante as cerimônias festivas dos Òrìsàs, são eles que, por meio da sua arte musical contribuem para trazer os Deuses à terra.
Quando falamos em Ògán, muitos pensam em tocadores de atabaque, mas o papel do Ògán em uma casa de asè abrange muitos mais que a parte musical nos terreiros.
Os Ògáns são como uma espécie de guardiões do Terreiro. Além de contribuir com o zelo dos Òrìsàs, eles também zelam pelo Terreiro. Um grande Ògán, ao chegar à Casa de Candomblé, após se purificar por meio das folhas sagradas, se vestir adequadamente e, saudar o seu Sacerdote, busca realizar sua funções com esmero. Mas afinal, quais são essas funções?
Conforme mencionado, além do cuidado com os atabaques (manutenção), também é papel do Ògán contribuir para que tudo caminhe bem no Terreiro. Um grande Ògán, busca defender o a sua comunidade, o seu asè de forma contundente, fazendo de tudo para que o mesmo seja preservado. Recordamos aqui, o saudoso Elemoso Agnelo, Ogan do Terreiro da Casa Branca, que de forma contumaz, lutou para reaver uma parte do terreno do seu Asè, que havia sido indevidamente tomado por um posto de gasolina.
Um grande Ògán, busca preservar as edificações do seu Terreiro, estando sempre atento para qualquer e eventual dano, como, por exemplo, a necessidade da troca de uma telha, ou um degrau danificado em uma escada.
Um grande Ògán, se dedica em diversos âmbitos do Candomblé, como aprender os toques, os cânticos, os animais, as folhas. Existem Ògáns que são exímios conhecedores de folhas e suas virtudes, que aprenderam desde como colher as sagradas ervas dos Òrìsàs até as suas propriedades medicinais e religiosas.
Cabe ao Ògán o cuidado especial e indispensável com os animais que serão ofertados aos Deuses, de modo que a oferta seja aceita de forma plena. Um grande Ògán, sabe como entregar um sacrifício (ebó), de modo que o mesmo seja conduzido conforme a necessidade específica de cada problema.

Todo esse conhecimento demora anos, cabendo ao Ògán estar sempre atento às palavras e conselhos do seu Sacerdote que conduz o seu aprendizado religioso. Amanhã, vamos falar sobre a postura de um Ògán no salão, durante as festividades religiosas.
Mas, fato é que, além do virtuosismo frente aos atabaques, ou o conhecimento de milhares de cânticos evocatórios, há um fator que faz com que um Ògán seja reconhecido pelas pessoas e, sobretudo, pelos Deuses, esse fator é a postura religiosa que o mesmo possui ao longo da cerimônia.
Um grande Ògán, que serve de exemplo para os seus discípulos, mais que um bom tocador/cantor, tem que ter uma postura condizente com o seu importante papel na comunidade-terreiro. Aqui em Salvador, os Grandes Mestres, sempre vão às festas muito bem alinhados. Os grandes Ògáns da Bahia fazem questão de estarem bem vestidos, eles dizem que antigamente, não se via um Ògán de calça jeans no Candomblé ou de camiseta.
Além das vestimentas, esses Ògáns são muito atentos ao andamento das festas, eles sabem o que cantar e quando cantar. Quando reunidos, eles formam uma espécie de irmandade, em que todos se entendem, se confraternizam, sem qualquer tipo de disputa ou briga.
Um grande Ògán, toca e canta para os Deuses e não para as pessoas que estão na festa. Um grande Ògán, sempre consulta o seu Sacerdote, para saber como será o andamento da festividade, para qual Divindade poderá prolongar-se um pouco mais nos cânticos, ou não.
Um grande Ògán, procura permanecer o maior tempo possível no salão, evitando sair, principalmente quando o Òrìsà está na sala. Ele está sempre atento aos visitantes que chegam, comunicando o Sacerdote e, muitas vezes, os recepcionando.
Um grande Ògán respeita incondicionalmente os Òrìsàs, ele sabe a hora que deve parar de cantar. Um grande Ògán procura aprender os cânticos do seu Asè, da sua raiz, evitando cantar algo que somente ele conhece, afinal, para ele o importante é ver o Òrìsà feliz com o conjunto e não com o solo.
Hoje é fundamental que os Ògáns procurem se unir e comungar com o Òrìsà. É fundamental que o Ògán respeite os seus mais velhos e a liderança do seu Terreiro.
Em Salvador, ainda tem momentos especiais, nos quais grandes e renomados Ògáns quando se encontram realizam festas históricas para os Deuses, mas isso só ocorre por um motivo, eles fazem pelos Deuses e não pelas pessoas.
Nenhum comentário